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sábado, 7 de março de 2009

Conte um conto e aumente um ponto.

Bom, sem mais delongas, escrevi um pequeno conto.

Uma historieta, com única intenção de entreter. vejamos se gostam.
Caso não tolerem, prometo postar coisa melhor amanhã.






Sexo e risada.

 

 

Eu e o Carlão estávamos rodando a cidade no carro. Nada demais pra fazer, apenas rodando a cidade. Era a época em que eu gostava muito mais da bebida do que de mim mesmo. Gostava mais da bebida do que do Carlão também, e ele era meu melhor amigo de copo. Não tinha grandes problemas em ser preterido também. Eu contra a cerveja, me parecia um duelo impossível de vencer.

Paramos o carro na frente de um posto de gasolina e saltamos pra beber uma gelada.

Ainda nas primeiras cervejas, quando não conseguíamos conversar direito – o papo sempre ficava mais interessante após algumas, quando finalmente o conteúdo abandonava a cena – eu enxerguei o aparelho televisor da loja de conveniência do posto.

 

Passava um programa voltado a coisa alguma, o público-alvo é o nada e apresenta um coquetel de futilidade, vez ou outra uma bandinha interessante e um convidado razoável, mas, ainda quando esses vão, são fuzilados pelas perguntas imbecilmente direcionadas pela mídia ou pelas perguntas vazias feitas pelos adolescentes, cuja perspicácia e sagacidade são embotados diariamente pela mesma mídia. Após a passagem pelo paredão, desacostumados com as balas, os melhores saem ainda mais escangalhados que os piores. É como a diferença de dar um soco na cara de um pugilista ou na cara de um modelo de passarela. Algusn já estão bem mais costumados a ouvir apenas “Como você faz pra manter esse corpinho?” ou “você ta namorando?”.

 

O programa seguia o seu ritmo, quando entra em cena a mais chocante figura, uma sexóloga que ria. Do outro lado da linha, um menino dizia que não conseguia transar, não conseguia manter o diabo da ereção. Já havia tomado viagra, comido ostra, amendoim com catuaba e tudo o mais, mas não adiantava. Súbito todos começam a rir e a sexóloga não foge à regra. Responde à pergunta do rapaz, com todo o conceito do mundo, porém, entre risadinhas e sorrindo. Sorria o tempo inteiro. A impressão que eu tinha era de estar vendo a uma tomada humorística do programa. Me veio à mente um dia que fui ao dentista e descobri que ele usava dentadura e nos dentes que restavam, tinha cáries. Nunca um tratamento de canal doeu tanto.

 

As primeiras cervejas fizeram efeito, e logo meti a mão no bolso, em busca da grana pra comprar mais. Imediatamente o Carlão me advertiu. – Nem pega essa grana. A cerveja aqui é cara feito o diabo. – Tirei a mão de dentro do bolso(sem a grana) e notei que as primeiras cervejas haviam mesmo iniciado o efeito.
Saímos do posto e um menino veio pedir um trocado. O menino pediu um real ao carlão, sujeito ruim de jogo. Não gostava de soltar a grana. O menino fez uma celeuma, contou a vida inteira, disse o quanto aquele um real seria importante pra ele, pelo amor de deus e tudo o mais que se possa pensar. O carlão olhou-o de cima a baixo e falou. – Não tenho o dinheiro, menino. – E ele partiu.

 

Chegamos ao próximo posto. Na televisão a sexóloga permanecia respondendo e sorrindo, mas a cerveja saia bem mais em conta.

Colei no balcão e pedi 3 geladas. Logo que pegamos as cervejas o Carlão virou e disse – Vamos lá fora, preciso fumar um cigarro.

Outro menino de rua nos avistou e colou ao nosso lado.

- Aê tio, arranja um real.

- Ta na mão, pivete. – Reponde o Carlão, lançando a moeda pra ele, como quem joga cara ou coroa.

O menino pegou a moeda no ar e se virou pra ele novamente. – Dá um cigarro tio.

- Não abusa, guri. – E ele deu as costas e saiu.

- Carlão, porra, porque não deu o dinheiro pro primeiro menino, achei que fosse contra esmolas.

- Você viu como ele pediu? Aquele primeiro real ia salvar uma vida, cara. Tinha uma porra de um contexto social. Eu não tinha aquele dinheiro, caro demais. Muita grana, muita grana.

- É, faz sentido. – E nesse momento eu entendi porque eu sempre conseguia conquistar as mulheres que eu tava pouco me fudendo, mas nunca conseguia conquistar as mulheres pelas quais estava apaixonado. Puta merda, fazia mesmo sentido.

 

Tomamos mais umas gelosas e eu pensava naquela merda toda. Lembrava perfeitamente de uma garota que eu tentei conquistar de tudo que foi maneira. Ela valia céu e terra pra mim. Eu comprei biscoitinhos, fiz poemas, dava os bons dias mais simpáticos do mundo. Daqueles que parecem que você tirou o seu bom dia para fazer o bom dia dela e ela sempre cagou pra mim. Quando eu me livrei do pesadelo que era estar apaixonado por ela, ela passou por mim.  – Bom dia. – Disse, mas o que ela queria mesmo era o meu bom dia. E eu respondi. – É, ta bacana. – Fria e secamente. Tomei todos os meus bons dias de volta e ela ficou toda derretidinha. Era o valor da coisa. Agora tudo faz sentido.

Tomei mais uma cerveja pra sacudir aquele pensamento longe da cabeça.

- Carlão, cara. Vamos comprar a saideira e ir pra casa?

- Claro cara, sua vez de pagar.

Entrei, comprei as duas últimas. Me aproximei do balcão.

 

A sexóloga ainda sorria.



6 comentários:

Unknown disse...

Hehehe, gostei. Será que é "mal de sexólogo"? Meu professor, sexólogo, vive rindo por qualquer bobagem e contando piadas também. Na última aula ele imitou a tia dele, que tem gagueira.
Sexólogos são mesmo sorridentes, por que será? haha...

Aah, e "fazer-se de difícil" é lei na conquista, rsrs.
Abraços.

Gabriel Pinheiro disse...

Caríssimo, bom conto. Narrativa solta.Linguagem natural. Achei um pouco detalhada demais a descrição do programa de TV, mas tinha o seu lugar e cabia bem na - por que não chamar assim? - métrica do conto.
Empolguei-me com este causo.
Postarei o meu também. Aquele que você já leu.
Forte abraço.
Gabriel
e parabéns, tá muito bom.
Bom sinal do que está por vir... sabe do que falo e não mais falarei por hora, vez que nem todos sabem...O mistério é parte. Vai valer, certamente, emuito. Este conto é uma premissa.
O meu estará postado também.
Abraços e às feras.
Publiquemos as nossas obras antes que nos tornemos escravos delas.
Mais abraços,
seu irmão.

PS - E você nem me avisou do jantar da terça, né? Foi preciso o velho José das Renas me ligar... Enfim, estarei lá.
Beijos, irmão.

Candice Morais disse...

Não podia dormir sem fazer a leitura do seu conto, meu amor. Adorei! Seu texto é fluido, uma delícia de ler! A história bem interessante...

E por favor: publique outros contos, textos, poesias, e tudo o mais que esta cabeça pensante, criativa e talentosa quiser gritar, sussurrar, criticar ou simplesmente intrigar... Você pode e deve!

Te amo!!

palosas disse...

Belo conto, Ângelo. Texto leve, períodos curtos, rápidos. O roteiro mais rápido do oeste. Me pegou do início ao fim. Gosto da objetividade, só acho que faltou um pouco ali na descrição inicial do programa, mas a história rouba a cena. É muito boa e bem desenhada. A coisa do tempo psicológico, entre os efeitos do álcool e "as horas de relógio", como dizemos aqui na Bahia, foi muito bem trabalhada. O conto tem início meio e grand finale (não sei se existe esse "d" mudo no termo), quando a sexóloga ainda sorri, entre estrelas cadentes bombardeadas por traques vindo da platéia. São artistas que foram produzidos em série, sendo recauchutados. Serginho é uma espécie de torneiro mecânico da indústria cultural. Tomara que não queira se candidatar a presidente. Abraço, rei. Você escreve bem, cara. Como disse Candice, continue jogando seu talento na rede.

Anônimo disse...

Grande Conto Angelo, interessante e engraçado esse conto, eu estava me imaginando no seu conto viajando, muito bom mesmo. um grande abraço de seu Broder Daniel_Solto_Maior !!!

Alexandre Lucas disse...

Não sei por que, mas fui com o jeito de pensar desse seu amigo.