Quase todos que aqui frequentam, vêm apenas para ler os meus contos, sei disso.
Porém, hoje acordei com pensamentos diferentes. Lembranças de coisas que há muito eu tenho pensado, subitamente misturaram-se a coisas que estou vivendo e criaram vida em uma espécie de poesia.
Quem nunca conheceu alguém que orgulha-se da própria modéstia sem ao menos se preocupar com a contradição da frase pronunciada?
Triste e dura como a realidade é, tem sido e será, eis aqui o pequeno monstro que abortei essa manhã:
A presença da ausência
Hoje me choca a presença.
A presença da ausência em tudo
E de tudo.
O orgulho de ser humilde,
De ser o lado A do lado B.
De beber e fumar um baseado
Pra ser diferente do convencional
E criar uma convenção ainda mais excludente em sua essência.
Aceitar as diferenças apenas dos que me são iguais.
De ser o Gandhi déspota.
Ser o Cristo que condena
Sem ter sido condenado por nada ou ninguém.
O totalitarismo alternativo
É ainda mais cruel do que qualquer fascismo convencional.
Hoje eu olho fotos de ontem
E, subitamente, lembro de poesias que nunca li.
Vejo as jogadas perfeitas logo após o cheque mate.
Tento apagá-las
Mas são indeléveis.
Tento mover as peças
Mas o rei está no chão do tabuleiro.
Já sou eu o Cristo que condena.
À guisa de morrer pela humanidade já a matei por mim.
Sou um prato reluzente e límpido entregue nas mãos de um esfomeado.
VAZIO
Toda a metafísica e a semiótica do que poderia ser...
Mas jamais será.
E só o que me incomoda é a presença da ausência
Sempre
E pra sempre.
Ainda que o pra sempre, sempre acabe.
E se torne ausência.
Sempre presente.
Ângelo Pinheiro