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sábado, 28 de fevereiro de 2009

Alma de crítico

O Brasileiro tem a alma de crítico. Na melhor das hipóteses.
Nunca realizamos, nunca fazemos, nunca buscamos, mas nos dá um imenso prazer detectar o erro alheio. Jamais o nosso.

Pessoa falou há décadas idas que não conhecia quem tivesse apanhado, ou sofrido humilhação, mas certamente conhecia muitos que batiam.
O Brasileiro é, típicamente aquele que bate antes de se lhe chegar o soco. Na verdade, antes de que se preparem para bater nele. Antes até de terem a intenção de o atingirem. O bater antes de apanhar, o não escrever para não ser criticado, o não criar mas reclamar da criação alheia, se dá pelo medo da exposição, geralmente.

Não gostamos de nos expor, temos o intenso medo da crítica. Escrever é se expor. Criticar é a salvação.
Criticar livros, é a perfeita fuga para quem quer simular que entende de literatura mas não quer se expor escrevendo. Óbvio, teme ser vítima da crueldade que impele. Quem critica literatura está destruindo o caminho que leva à mesma.

Muitos relacionam a crítica à inveja. Acho que tem lógica, claro, mas que não é fator decisivo. Nem todos que criticam "os crânios" em determinado assunto, queriam sê-lo. Poucos têm tão astronômicas aspirações. Querem apenas mostrar que são bons o suficiente para criticá-los e que o fato de não aventurarem-se em empresas nesse sentido dá-se apenas a um desinteresse. Um despretensioso desinteresse que nada tem a ver com inaptidão.

A inveja se vê mais facilmente na facilidade que a mídia tem em mostrar escândalos com ídolos. Qualquer um nota que é muito agradável enxergar nos ídolos defeitos graves que não temos. Ver abaixo de nós em termos morais, legais e etc. os que sempre vemos acima de nós em sucesso.

Mas, voltando à alma de crítico, creio estar esta mais ligada à indolência do que à inépcia.
Comodismo.
É muito mais cômodo conseguir notoriedade em certo assunto enxergando erros alheios do que iniciando algo nosso.

CEMECEMOS, ESCREVAMOS, CRIEMOS. Ainda que diletantes, ainda que trôpegos e sem maiores aspirações, busquemos a aclamação pelos nossos acertos e não pelos erros alheios. Que tal?

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Sociedade sob controle

Uma palavra que incomoda bastante é "mediocridade".
Eu mesmo, me sinto ultrajado apenas em ouví-la, admito.
Ninguém quer ser o mediocre, jamais. Tudo menos o mediocre. Essa é a verdade anunciada.

Por outro lado temos uma sociedade que não apenas acata a mediocridade, mas a aprova, a deseja e a fomenta.
Estava parado na fila da lotérica enquanto ouvia a conversa de duas senhoras.
A primeira vociferava odiosa: - Meu marido é um vagabundo.
Em tempo que a outra observou: - O meu também não vale nada.
A primeira torna a gritar, porém, iniciando a sua ode. - Não exijo dele presentes, carinho, toda a atenção do mundo. Queria apenas que ele estivesse em casa ao invés de estar bebendo no bar, caindo pelos cantos na rua.
A sua amiga, entra no elogio à mediocridade, endossando a ode da colega. - Ah, disso não posso me queixar. Não posso dizer que meu homem é tudo que uma mulher pode desejar, mas não bebe mais. De vez em quando joga, mas guarda um pouquinho de dinheiro pra a família. - Disse ela com visível alegria, quase um orgulho pelo esposo mediano que possui.

Imediatamente me entreguei a esse inútil hábito de analisar o cotidiano.
E dessa vez não me limitei a analisar de fora, vesti em mim a capa da mediocridade e que susto enorme me tomou conta ao notar que precisava de menos ajustes do que imaginava para assentar como feito por encomenda.

Como bons brasileiros e filhos de colônia que somos, aprendemos, ano após ano, a sermos humildes e conformados, repelir o orgulho - este torpe pecado - com a mesma fúria com que abraçamos a modéstia, chegando a negar a autoria de algo que se considere muito bom, no máximo assumimos a autoria em grupo, jamais sozinhos.

Não se trata de espírito de equipe, como os mais esperançosos podem pretender, trata-se do fato de não considerarmos que merecemos tanto.
Assim como a primeira esposa deseja apenas um marido que não caia pelos cantos de bêbado e a segunda deseja apenas um marido que não jogue todo o ordenado da família, notei que eu desejo apenas um trabalho que me dê dinheiro o suficiente para me manter, apenas o convívio de pessoas que me tenham a mínima consideração. Alguns - e não raro se ouve isso no brasil inteiro, excetuando-se São Paulo, onde a ambição não é pecado mortal - chegam a erguer a mão aos céus para agradecer tão somente a saúde que Deus os deu.

Também é comum ver as pessoas que têm um verdadeiro bom relacionamento dizerem "eu não mereço tanto". Chega a ser uma máxima pró-mediocridade. A falta de merceimento é tamanha que alguns entregam as glórias ao destino e dizem "tenho mesmo é muita sorte".

É vetado o direito de desejar mais. "Ambicioso" é uma palavra, em linhas gerais, vista como  demeritória, "orgulhoso", nem se fala. os poucos que conhecemos que merecem tal adjetivo nem queremos por perto.
Estamos, cada dia mais, nos acomodando com a média. Não podemos desejar mais, pelo contrário, devemos agradecer.

Agradecer o marido que bebe menos, agradecer o salário que nos mantém sem luxos, e agradecer aos céus pela nossa saúde.


Pode parecer contraditório, em verdade chega a ser paradoxal, mas o brasileiro pode se orgulhar de ser um dos povos mais humildes do mundo.



Opinião de conveniência

Uma questão que me aflige de quando em vez é a tal da "imparcialidade".
Não quero dizer que devemos colocar toda a nossa paixão em tudo o que acreditamos, mas que devemos preservar o direito de acreditar em alguma coisa.

Sou comunicólogo e, especialmente na minha profissão - por curioso que pareça - a liberdade de expressão é extremamente cerceada. Podemos falar SIM, mas sempre sendo imparciais. Basta que comecemos a discorrer sobre algum assunto que vem alguém levantando uma bandeira branca, branca não como a paz, branca e inócua como o nada, o vazio, e dizendo "não se pode ser assim tão radical".
Vá lá que eu não devo publicar todas as minhas opiniões, admito inclusive, comungar de algumas impublicáveis, mas não é por isso que devemos estender as leis de imprensa a mesas de bar, conversas entre amigos(ou os que supomos o serem) e demais encontros informais.

Outro dia, lembro-me como hoje, estava a ver uma notícia na televisão, sobre aquele famoso "Caso Isabela Nardoni" ainda bastante no início. Imediatamente  vociferaram "assassino, vagabundo" e outros bichos. Curioso é que, na época, ainda não havia nada que indicasse a culpabilidade do casal(que mais tarde se provou culpadíssimo). Cadê a tal "imparcialidade?
Onde vai parar o veto ao "direito de ser radical"?

Internamente capitulei naquele instante, essa tal "imparcialidade" que hoje em dia se defende com unhas e dentes não trata do ato de não sacrificar a sua opinião à conveniência e sim do seu exato contrário. Normalmente devemos julgar a todos sob o princípio da presunção de inocência e devemos julgar as coisas desapaixonadamente. As excessões as devemos à conveniência. 

Dessa forma podemos emprestar à nossa opinião a volatilidade do vento e a brancura... mas não a brancura da paz.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Dualismo bunda

Numa das minhas inúmeras navegadas sem sentido pela internet, isso há muitos anos passados mas recordo-me vivamente,  me deparei com algo bastante interessante.
Um blog de alguém que se sentia verdadeiramente "o tal". Um grande ninguém, o saudoso desconhecido. O famoso quem?
Era um entre os muitos grandes filósofos virtuais, o oráculo online.
Enfim, ele pegava idéias que estão na mídia e questionava-as de maneira solta e sem sentido. Não podia-se dizer que ele as objetava, posto que ele não tinha uma opinião, ele apenas questionava. 
Enquanto os meios de comunicação de massa enfiam-nos as informações, já pré-digeridas, goela abaixo, ele apenas retirava-as da nossa goela, sem o cuidado de dar a elas novo destino, nova forma ou qualquer mudança que fosse.
Simplesmente mostrava que aquela certeza, não era assim tão certa, que aqueles pensamentos não eram os nossos e também não os dele.

Os idiotas virtuais, sedentos por um gênio - os idiotas estão SEMPRE sedentos por um gênio - imediatamente dão a ele esse posto. Enchem o ilustre desconhecido dos mais afáveis elogios e o aclamam da mais efusiva forma imaginável(ah, essa necessidade brasileira de inferiorizar-se ao endeusado sábio). 
Nesse momento me veio à cabeça aquela patricinha que se acha inegavelmente bonita. Perfeitamente enquadrada nos padrões estéticos pré-definidos pela moda plástica. Cabelos de acordo com as novas tendências da globo, das revistas de moda ou dos artistas internacionais em maior destaque, corpos esculpidos com dietas de fome e horas a fio em academias medieváis, porém idiota, que sucumbe ante à sedução de um feio canalha.

Chegando com ares de superior, o canalha olha-as de cima abaixo, demonstra pouco interesse e some. Quando nota a necessidade de um contato maior ele faz alguma pergunta estéril. As horas, a próxima sessão de cinema, qualquer coisa, contanto que demonstre o mínimo interesse possível e suma por um tempo.

Os menos astutos podem estar se perguntando o que tem a ver o cú com as calças. Nesse caso, tudo.
O idiota virtual é, como a bonita porém idiota, recheado de certezas. Um com as certezas que a televisão e os blogs de notícias os dão e a outra com a absoluta certeza de que todos são loucos por ela. Bonita, gostosa, na moda tanto no nas roupas quanto no estilo(de falar, de andar, de se comportar) como alguém pode não a desejar profundamente?

É aí que o canalha entra. Ele, assim como o oráculo quando afirmou que as certezas dos idiotas não eram reais, coloca a patricinha em cheque simplesmente não dando a ela o gosto da cantada. Ela já não tem certeza se é tão fatalmente desejável quanto supunha e isso a deixa sem chão.

A dúvida.

O ser humano estúpido consegue ser idiota o suficiente pra idolatrar imediatamente aquele que os colocou em dúvida. A auto-estima verdadeira está tão fora de questão que o simples fato de instaurar a dúvida já os dá a certeza do erro e da inferioridade.

Em ambos os casos a segurança de quem não diz nada é maior do que a certeza de quem acredita piamente em idéias alheias. 

No próximo contato o sucesso é provável, tanto ao canalha que passou a ser interessantíssimo sem acrescentar nada, quanto ao oráculo online que desconstrói uma realidade deixando uma lacuna genial.

E assim, num mundo de semblantes, incertezas e desinteresses,  fenece o conteúdo.