
quinta-feira, 30 de abril de 2009
A sagrada miséria

sexta-feira, 17 de abril de 2009
Pequena cena

A princípio, gostaria de pedir desculpas pela enorme demora entre uma postagem e outra. Isso se deu por minha vida estar passando por muitas loucuras. Também, pelo fato de que estou de férias. Nesse início de férias me dediquei a meus projetos pessoais e, apesar do blog ser um deles, acabei por deixar o blog meio de lado. Além disso, nas férias sempre ficamos meio lentos, né?
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Um outro conto.

Lá se vai mais um conto. Para os que simpatizam com o Carlão, ei-lo novamente.
Aos que se identificam com o clássico Cafajeste, como a eterna personagem, alguns dizem que autobiográfica, de Jece Valadão, eis o romantismo de uma classe esquecida e abominada, sobretudo agora, em tempos da crescente e quase opressiva "liberdade feminina".
Chegava eu no trabalho, pontualmente às 08:00, talvez 07:55, quando me dão um aviso estranho. Muito estranho.
- Carlão! O que é que há, meu irmão? - Pergunto ao entrar na sala em um rompante.
- Eu. Assassinado por uma mulher. - responde Carlão, desolado. Isqueiro na mão, mas sem forças e nem decisão para acender o cigarro. - O pior? Fui eu o mandante do crime.
- Porra, esmiuça isso daí, Carlão! Esmiuça.
- Vamos sair daqui. Não quero ser a piadinha suicída do escritório. - Falou Carlão, se levantando e pairando ante mim. Tal e qual o fantasma dele mesmo.
Esse era o Carlão. Não esse monte de carne mole que estava à minha frente, de gravata. O Carlão de gravata.
domingo, 5 de abril de 2009
Pausa para Agradecimentos


Bom, estou oficialmente fazendo uma pausa destinada a agradecimentos, rasgação de seda e puxa-saquismo explícito mesmo.
Enfim, isso não diminui em nada - até aumenta - a honra que senti em ser laureado(olha a palavra novamente) com esse selo. Aproveito esse espaço e faço minhas as suas palavras em seu mais recente comentário no meu blog: "Também estou feliz em ler seus textos. Há vida inteligente na blogosfera". Há sim e você é prova viva disso, bem como seu blog é prova virtual disso.
Como não vou dar selos a ninguém, gostaria aqui de parabenizar algumas pessoas, pela força e motivação que me deram nesses dias de blogueiro.
Gabriel Pinheiro(nepotismos à parte, bons textos): www.safenacultural.blogspot.com
Jamerson Silva, um grande vencedor que tive a sorte de conhecer nessa vida: www.coisasqueinquietam.blogspot.com
Sheila e seus ensinamentos acerca da psicologia e psicanálise: www.escribadodocio.blogspot.com
Valdeir, grande amigo blogueiro, muitos textos de excelente qualidade e muito conhecimento a respeito da blogosfera: www.ponderantes.blogspot.com
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Encontro com a morte.

Bom, conforme vinha prometendo há(corretamente posicionado) algum tempo, segue mais um conto.
Duas mortes.
É quente.
Sinto o calor da mortalha que forra, abafado pelos
Não devia estar sentindo isso, mas sinto.
Sinto perfeitamente a movimentação do corpo ao primeiro tranco, resultante do acionamento da manivela que desce o caixão. Sinto a escuridão aumentar a cada palmo percorrido abaixo da terra. Ouço os primeiros punhados de terra jogados pelos parentes, amigos.
Jogados por mim.
Meu nome é Sandro Arnaldo Junior. Dr. Sandro Arnaldo Junior.
Neurocirurgião.
O nome, bem como a profissão, herdei do papai. Talento é genético, todos sabem disso.
Lembro de uma manhã. Estava com meus amigos, jogando bola. Sonhava em ser jogador de futebol. Diga-se de passagem, jogava muito bem. Meu pai da janela gritava e me chamava:
- Sandrinho! Entra meu filho, você é bom de bola, mas a faculdade de medicina é concorrida, tem que ter uma boa base.
- Ah pai, mas eu quero jogar bola. – Argumentei arfando.
- Como profissão?
- É, pode ser..euheuheuhe – respondi entre risadas e arfadas decorrentes do jogo.
- Mas eu sou o Dr. Sandro Arnaldo, não sou o Zico nem o Pelé.
- Ta booooooom. – Entrei pra casa, desejando no meu intimo ser filho do Pelé ou do Zico.
Passados anos de fervoroso estudo, entrei com facilidade na escola de medicina da UFBA, assim como meu pai. Ele era puro orgulho no dia. Ele era pura felicidade. Ele estava uns 20 anos mais novo.
Lembro perfeitamente de quando o Tio Guilherme chegou em casa, charuto na boca, cervejinha em lata na mão
- Parabéns, Sandro. Detonou no Vestibular, ein? – Gritou a todo pulmão.
- Muito obrigado, muito obrigado. – Respondeu meu pai, enquanto eu ainda tomava fôlego para falar.
- Sandrinho, como foi o Vestibular, me conta? – deitando a lata à mesa, perguntou o Tio Guilherme.
- Coisa boba, com todo o estudo, foi fácil. Não foi filhão? – Novamente interrompeu o papai, antes que eu conseguisse responder. Ao que me limitei a assentir com a cabeça.
- Pai, vou sair. Tomar umas com meus amigos, comemorar.
- Vai sim, filhão, vai sim. Ficarei daqui tomando umas também, em comemoração. – Respondeu vigorosamente, enquanto servia um copo de whisky pra ele e um pro meu tio.
Aposto que ele ficou mais bêbado do que eu. Quando voltei pra casa, meu pai estava deitado no banquinho do jardim da entrada. O copo na mão derramara em uma possível queda, causada certamente pela embriaguez excessiva. Um cigarro pendia da boca, colado ao queixo, ainda apagado.
Arrastei-o pra dentro de casa, acordei a mamãe que se disse já exausta com toda a cena passada na noite, mas ainda assim deu-lhe um banho de roupa e tudo e o colocou na cama.
Era a perfeita imagem de um calouro.
A faculdade se passou com velocidade. Tudo era pra mim muito fácil, eu tinha as dicas que precisasse em casa e tinha toda a habilidade no sangue. Legado. Como uma herança. Como se sabe, a herança é algo que geralmente você ganha sem desejar. Algo que só se adquire ante a morte de alguém. De alguém que você ama muito.
Anos se passam e agora eu sou Doutor. Doutor Sandro Arnaldo Junior, neurocirurgião.
Dia duro no consultório, abro a porta de casa e encontro a minha mãe – sim, ainda moro com a minha família – aos prantos.
- Sandrinho, o seu pai está muito doente. – Sandrinho...como é bom ser Sandrinho pra alguém. Como é bom não ter um título legado de Dr. Ao menos uma vez.
- Ele ta no quarto, mãe?
- Vai ver ele, meu filho, é o coração, deve ser o coração. Vai, você é médico e vai saber melhor do que eu. – E assim, lá vou eu, novamente Dr. Sandro Arnaldo Junior.
Passo pela porta do quarto e sinto calor e frio ao mesmo tempo. Um temor terrível toma conta de mim. Temor de morte.
- Pai, o senhor está bem? – Pergunto já sabendo de antemão a resposta. Eu podia sentir o frio tomando conta do meu corpo. Podia sentir a dor no meu peito. Não, não estava bem.
- Filho. – Falou ele vacilante. A voz trêmula de quem já não tem tanto tempo. Desgastada. – eu...
Ele continuou falando, mas eu já não conseguia ouvir. A dor no peito aumentava. O estômago parecia que ia estourar. A dor aumentava, irradiando-se para o braço, descendo para o estômago. Tudo fica branco. Turvo e branco. Lesão tecidual isquêmica irreversível.
Ouço o ranger da madeira polida em atrito com as pequenas pedras e o cimento. Ouço o som dos esforços abafados dos parentes, gemidos e arfares ecoando no próprio peito ao levantarem a pesada tampa de cimento. Nesse momento, me vem à cabeça as palavras do meu pai. Aquelas mesmas que eu perdi no momento em que minha respiração ficava mais curta e a pressão do meu peito se transformava
Mas a mim causa. Sinto a escuridão se tornar plena. Colocam a tampa de cimento. Eu coloco a tampa de cimento. Abaixo dela, Sandrinho. Sepultado com todos os seus sonhos, com a sua bola. Acima dela, Dr. Sandro Arnaldo. Embora Junior, Neurocirurgião.