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domingo, 22 de fevereiro de 2009

Dualismo bunda

Numa das minhas inúmeras navegadas sem sentido pela internet, isso há muitos anos passados mas recordo-me vivamente,  me deparei com algo bastante interessante.
Um blog de alguém que se sentia verdadeiramente "o tal". Um grande ninguém, o saudoso desconhecido. O famoso quem?
Era um entre os muitos grandes filósofos virtuais, o oráculo online.
Enfim, ele pegava idéias que estão na mídia e questionava-as de maneira solta e sem sentido. Não podia-se dizer que ele as objetava, posto que ele não tinha uma opinião, ele apenas questionava. 
Enquanto os meios de comunicação de massa enfiam-nos as informações, já pré-digeridas, goela abaixo, ele apenas retirava-as da nossa goela, sem o cuidado de dar a elas novo destino, nova forma ou qualquer mudança que fosse.
Simplesmente mostrava que aquela certeza, não era assim tão certa, que aqueles pensamentos não eram os nossos e também não os dele.

Os idiotas virtuais, sedentos por um gênio - os idiotas estão SEMPRE sedentos por um gênio - imediatamente dão a ele esse posto. Enchem o ilustre desconhecido dos mais afáveis elogios e o aclamam da mais efusiva forma imaginável(ah, essa necessidade brasileira de inferiorizar-se ao endeusado sábio). 
Nesse momento me veio à cabeça aquela patricinha que se acha inegavelmente bonita. Perfeitamente enquadrada nos padrões estéticos pré-definidos pela moda plástica. Cabelos de acordo com as novas tendências da globo, das revistas de moda ou dos artistas internacionais em maior destaque, corpos esculpidos com dietas de fome e horas a fio em academias medieváis, porém idiota, que sucumbe ante à sedução de um feio canalha.

Chegando com ares de superior, o canalha olha-as de cima abaixo, demonstra pouco interesse e some. Quando nota a necessidade de um contato maior ele faz alguma pergunta estéril. As horas, a próxima sessão de cinema, qualquer coisa, contanto que demonstre o mínimo interesse possível e suma por um tempo.

Os menos astutos podem estar se perguntando o que tem a ver o cú com as calças. Nesse caso, tudo.
O idiota virtual é, como a bonita porém idiota, recheado de certezas. Um com as certezas que a televisão e os blogs de notícias os dão e a outra com a absoluta certeza de que todos são loucos por ela. Bonita, gostosa, na moda tanto no nas roupas quanto no estilo(de falar, de andar, de se comportar) como alguém pode não a desejar profundamente?

É aí que o canalha entra. Ele, assim como o oráculo quando afirmou que as certezas dos idiotas não eram reais, coloca a patricinha em cheque simplesmente não dando a ela o gosto da cantada. Ela já não tem certeza se é tão fatalmente desejável quanto supunha e isso a deixa sem chão.

A dúvida.

O ser humano estúpido consegue ser idiota o suficiente pra idolatrar imediatamente aquele que os colocou em dúvida. A auto-estima verdadeira está tão fora de questão que o simples fato de instaurar a dúvida já os dá a certeza do erro e da inferioridade.

Em ambos os casos a segurança de quem não diz nada é maior do que a certeza de quem acredita piamente em idéias alheias. 

No próximo contato o sucesso é provável, tanto ao canalha que passou a ser interessantíssimo sem acrescentar nada, quanto ao oráculo online que desconstrói uma realidade deixando uma lacuna genial.

E assim, num mundo de semblantes, incertezas e desinteresses,  fenece o conteúdo.
 

4 comentários:

Unknown disse...

Infelizmente é assim mesmo. E a corrida continua, todo mundo querendo chegar na frente e conquistar um lugar no podium dos padrões da beleza midiática . Às vezes, questionamos o que seria o “belo”. Mas isso é bastante complicado, tão particular e idiossincrático!
Mas acho que o mais triste é quando não há questionamento a respeito. Apenas a passividade alienante, que se encontra aos montes por aí.
Contudo,é difícil dar conta de que somos todos um pouco divididos, nunca completamente garantidos do que afirmamos, sempre um pouco no "Semblante", tal é, nossa verdade de humanos.

Unknown disse...

Aaah,e eu confesso que fiquei curiosa...queria ver o blog do cara, rs.

Desirée disse...

Excelente blog, excelente texto.
O que eu vou falar agora é papo de velho e provavelmente soará clichê, mas fico triste e um tanto revoltada quando percebo que os jovens de hoje estão tão cegos (e tolos, tapados) com essa cultura de aparências (e, como tal, superficial e excludente) quando poderiam questionar outras questões, tão mais importantes pra todo mundo... essa geração vazia de conteúdo, tais como esses "chicleteiros" alucinados, tá botando o mundo a perder. Ninguém questiona mais, ninguém protesta mais.
Parabéns a Ângelo, que - tal como se dera na parábola da andorinha tentando apagar o incêndio na floresta carregando pingos d'água no bico - conseguiu fazer com que refletíssemos um tanto.
:)
Continue produzindo assim.
Beijo!

Léo Rehem disse...

é isso mesmo.. Assino embaixo Desirée.

Fico feliz em ver esse registro!! Muito Bom!!!