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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Orgulho de ser humilde

Bom,

Quase todos que aqui frequentam, vêm apenas para ler os meus contos, sei disso.
Porém, hoje acordei com pensamentos diferentes. Lembranças de coisas que há muito eu tenho pensado, subitamente misturaram-se a coisas que estou vivendo e criaram vida em uma espécie de poesia.

Quem nunca conheceu alguém que orgulha-se da própria modéstia sem ao menos se preocupar com a contradição da frase pronunciada?

Triste e dura como a realidade é, tem sido e será, eis aqui o pequeno monstro que abortei essa manhã:


A presença da ausência


Hoje me choca a presença.

A presença da ausência em tudo

E de tudo.


O orgulho de ser humilde,

De ser o lado A do lado B.

De beber e fumar um baseado

Pra ser diferente do convencional

E criar uma convenção ainda mais excludente em sua essência.

Aceitar as diferenças apenas dos que me são iguais.


De ser o Gandhi déspota.

Ser o Cristo que condena

Sem ter sido condenado por nada ou ninguém.


O totalitarismo alternativo

É ainda mais cruel do que qualquer fascismo convencional.


Hoje eu olho fotos de ontem

E, subitamente, lembro de poesias que nunca li.

Vejo as jogadas perfeitas logo após o cheque mate.


Tento apagá-las

Mas são indeléveis.


Tento mover as peças

Mas o rei está no chão do tabuleiro.


Já sou eu o Cristo que condena.
À guisa de morrer pela humanidade já a matei por mim.

Sou um prato reluzente e límpido entregue nas mãos de um esfomeado.

VAZIO

Toda a metafísica e a semiótica do que poderia ser...

Mas jamais será.


E só o que me incomoda é a presença da ausência


Sempre

E pra sempre.


Ainda que o pra sempre, sempre acabe.

E se torne ausência.


Sempre presente.




Ângelo Pinheiro

18 comentários:

Elaine Barnes disse...

Olá! Achei tão particular e bem escrito que nem sei se caberia um comentário.As vezes ficamos ausentes de nós mesmos, quase um abandono; outras ficamos vazios e ficamos como que no vácuo da fé,uma sensação estranha de insatisfação com um monte de informação que não damos conta de digerir, e esse vazio é bom pra separarmos as sementes e ver o que nos pertence e o que não ,assim, esse espaço é bom e não ruim como a sensação.Se não tem nada a ver o que eu disse, pode deletar tá bom!?rs...Bem, desejo um Feliz Natal preenchido com paz, alegria e união de si consigo mesmo e também junto dos seus. Montão de bjs e abraços

Lucas Ribeiro disse...

Fala Ângelo muito boa a leitura. Vai um comentário do que entendi.
Abraço brother!

Quando interpreto esse texto, não sei por que, mas me recordo das promessas não preenchidas. O que surge são os sentimentos e o que penso depois do fato acontecido. Raiva, desgosto, indiferença e a vontade de refazer se reagem tanto para quando sou o mentor ou o receptor desse processo miserável, gerador de um momento paradoxo.

Tânia Meneghelli disse...

Oi Ângelo!

Caramba, genial tudo isso. Seu texto de introdução, o poema em si, enfim, o que mais dizer?

Bom, digo que espero que no próximo ano sua cabeça continue assim, tão efervescente de ideias. Pra ficar mais interessante, o mundo virtual carece (e muito!) da sua misantropia.

Super 2010!

Beijoca!

comunicadoras disse...

E é olhando as fotos do passado que devemos caminhar para o futuro, emendando o que de errado foi feito conservando ou melhorando aquilo que de bom fizemos.É com este espírito que devemos começar este 2010, olhando o mundo de modo diferente, com atitudes mais humanas e racionais. Um beijinho, amigo e que sejas sempre muito feliz
Emília

Anônimo disse...

O rei pode estar no chão do tabuleiro, mas ele, assim como todas as outras peças, pode ser reerguido para um novo jogo. Os parceiros podem ter aprendido com seus erros e jogarão brilhantemente uma nova partida. Nenhuma perda é definitiva. Eles só precisam querer e não ter medo do fracasso.

Abraços da sua inspiração...

Elis Carvalho disse...

Oh rapaz, seus contos são realmente ótimos, assim como tudo que vc escreve..

continuo sendo fã do seu blog e esperando por mais textos!

"Aceitar as diferenças apenas dos que me são iguais." contraditório isso né? contradições que esbarramos o tempo todo em nossas vidas, em nós mesmos ...

ah, acho q tomei coragem pra divulgar meu blog, quando estiver afim dê uma passada lá:

http://apimentavermelha.blogspot.com/

André Santos disse...

Meu caro Ângelo, nosso cotidiano é tão paradoxal, que quando tentamos sair da rotina, parecemos meros imitadores de um ideal inexistente. Penso que devemos criar rotinas novas, a cada fase, a cada ciclo. O acaso nos pega de surpresa, e não o contrário. Como de costume um pensamento, texto bacana que tu pôs aqui. Abraço

EUREKA disse...

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não lastimo mais.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Nyala... disse...

Ducarai, preto!

Uma depreciativa homenagem à elite do circuito alternativo popular atual. Ou ao nosso próprio alter ego. Ou eu a mim depois de um boa dose de ayahuasca.

Anônimo disse...

Nooooossa meu, o que é iiiiisso!!!
Amei, amei, amei, como amo a você e às suas palavras.
Vc é incrível.
Bjos amigo!

Unknown disse...

ontem li sua poesia e hoje tentei vivencia-la...Noussaaaaa ainda estou nas primeiras linhas...rsrs
linda poesia sua viu...
Emanoela
Fortaleza/ce

Unknown disse...

Poooooooooooooorra!!!!! Linda sua poesia!!!! O tempo pode ter afastado a gente, mas as pessoas nao mudam e vc continua o mesmo. Se orgulhe disso.
Escrevi pra vc, mas vc nao me respondeu.. continuo esperando um sinal de vida..
Vc vai ser titio!!!!!
Beijos de quem te adora e nao te esquece nunca,

Ana Cleura. :)))

Tânia Meneghelli disse...

Olá, Ângelo!

Indiquei um selo bem especial pro seu blog, tá? Veja lá no meu cantinho.

Beijoca!

Catiaho Reflexod'Alma disse...

Eiii!
Vim deixar bjins e minha provocação...
" Mas só percebe
quem aceita a
pro-
vo-
ca-
ção...

Catiaho/ Reflexo d' Alma entre delírios e delírios

Ricardo Aiolfi disse...

Parece algo tão íntimo, profundo.
Muito bom =]


Mas cadê sua presença aqui?
Poste mais contos xD

Robledo Castro disse...

Fala! Tem muita coisa boa por aqui, hein? Voltarei a frequentar, assim como voltei a escrever.

Nuriko disse...

Falou em ausência, me lembrei de algo que li certa vez. Dizia "algo sempre nos falta — o que chamamos de Deus, o que chamamos de amor, saúde, dinheiro, esperança ou paz. Sentir sede, faz parte. E atormenta."
E sabe? É verdade. Alguma coisa sempre faz falta.

Diná disse...

Olá Ângelo!Godtei da volta triunfal com um conto bastante expressivo, bem escrito com uma tenática complexa, vivemos no mundo da indiferença.
Parabéns por sua cabeça borbulhante de idéias geniais!

Te seguindo viu??
Obrigada pela visita.

bjs!